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domingo, 19 de setembro de 2010

APURAÇÃO

vidas que se perdem...
penas e purpurinas
confetes e brilhos
espalhados em desencontros
em sambas atravessados
tempo não
tempo não volta
volta! – grito na multidão não se escuta.
surdo, surdo, surdo
na marcação
de alguém perdido – já se perdeu?
pés não acompanham a alma
alma sem corpo
garrafa de cerveja vazia
caída no meio-fio
na manhã de quarta-feira.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2006.

domingo, 12 de setembro de 2010

ENCONTRO

Miro a mulher parada,
ela virada pra fora.
Será que vê a paisagem?
Esgazear de olhos negros,
ares de enxergar o nada.
O que será que espia,
fita, investiga, espreita?
Parece esperar alguém...
um eu que de fora vem?
Encostada na esquadria,
a porta, de par em par,
seu corpo é como miragem.
As mãos, vaguidão em cada;
os pés, gesto de voar;
o rosto voltado, embora
pareça ao errante afeita.
Com que será que ela sonha:
futuro, mar, querubim?
Por ordem de deuses gregos?
Será por pura peçonha?
Ela olha para mim.
Fascinada, olho a mulher:
está nela a minha face.
E, sem qualquer mais disfarce,
é a mim que ela quer.

(Eliane F C Lima)

Atenção: poema registrado no EDA – RJ – Escritório de Direitos Autorais .

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ENTRE O PROZAC E O PROSAICO

Não foi difícil convencer Helena a sair naquela noite. Fazia dias que se irritava até com as buzinas de carros e motos, velhas companheiras, partes do pacote de aluguel do antigo apartamento na Rua das Laranjeiras.
Manu, com seu tubinho preto e boca vermelha-vou-à-luta, esperava no banco da portaria pela amiga. Acreditava que, não subindo, Helena seria mais rápida e elas, desta vez, não chegariam atrasadas ao barzinho na Lapa.
Depois de vinte minutos, sai do elevador um ser arquejante de conjunto de moletom cinza e cabelos sem direção.
─ Demorei?!
─ Um pouco. Responde Manu, certa de que deveria ter subido.


Cintia Barreto
Rio de Janeiro, 2 de maio de 2009.