Eliane F.C.Lima
Uma pipa é um ser,
extensão de braço,
extensão de mão,
olhos, boca aberta,
sua atenção;
voando no ar,
gestos quebradiços,
se ela vai ou volta.
Uma pipa é um ser,
cabeça e cauda rota,
um balé gracioso,
vírgula ao vento,
peixe fino e aéreo,
agulha de papel
costurando o ar.
(Texto registado no EDA - Biblioteca Nacional)
Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro
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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
PROCURA
Quantas buscas perdidas?
Quantos gritos de largada?
Quantas noites mal dormidas?
Quantas manhãs despertadas?
Sou criança curiosa. Sou a tia comportada.
A pessoa esquecida. A mulher enganada.
Sou muitas, enfim nenhuma.
Tatuagem retirada.
(Cintia Barreto)
Quantos gritos de largada?
Quantas noites mal dormidas?
Quantas manhãs despertadas?
Sou criança curiosa. Sou a tia comportada.
A pessoa esquecida. A mulher enganada.
Sou muitas, enfim nenhuma.
Tatuagem retirada.
(Cintia Barreto)
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
FILOSOFIA PÉTREA
Uma pedra é um universo fechado sobre si,
perfeita concretização da estática:
nada ao exterior,
sólido egoísmo,
introversão congelada.
A pedra só sabe de si,
em seu sono hibernal;
pura discrição,
nada ouve, nada vê, nada fala,
uroboros petrificado.
Eliane F.C.Lima
(Poema registrado no Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional)
perfeita concretização da estática:
nada ao exterior,
sólido egoísmo,
introversão congelada.
A pedra só sabe de si,
em seu sono hibernal;
pura discrição,
nada ouve, nada vê, nada fala,
uroboros petrificado.
Eliane F.C.Lima
(Poema registrado no Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional)
domingo, 3 de outubro de 2010
ICH LIEBE DICH
por Cintia Barreto
Certa vez um homem olhou para uma mulher e disse: “Quer casar comigo?” Depois disso, nada mais foi o mesmo.
Marta, mulata exportação, vivia a comprar tamancos e vestidos que lhe valorizavam ainda mais a silhueta perfeita. Dada a elogios, ficava toda, toda quando, no caminho do colégio do filho de sete anos, assobios, piscadelas e buzinas a interpelavam. A mulher fingia não ouvir, mas verdade é que chegava a casa satisfeita e inspirada para iniciar as tarefas diárias. À noite, fazia sempre o jantar enquanto o filho assistia, pela enésima vez, seu desenho predileto na tevê da sala.
Beijo na testa, afago na cabeça. Beijo na boca, aperto na cintura e toca Marcos pro banho pra, em seguida, mais uma refeição em família.
Hei, nome de batismo de Marcos, alemão de origem, brasileiro por adoção, encantou-se com os trópicos e tudo o que continham, principalmente as mulheres. De todas que conheceu, nos primeiros anos de brasilidade, nada lhe tremia mais as pernas que Marta Brasil. Conheceu-a no curso de português pra estrangeiros de uma universidade pública. Era a mais ladina das monitoras e dava uma atenção especial ao simpático homem.
Verbos, substantivos, artigos, adjetivos. Cafés, papos, bilhetes e abraços. Não demorou muito, os dois bares, becos, motéis.
─ Ich liebe dich!
─ Ich liebe dich!
Marcelo chegou sem planejamento, em meio uma fantasia de colegial daqui, outra de oncinha dali, todas compradas, às pressas, num sex shop do Centro da cidade maravilhosa. O menino, assim, logo se anunciava entre duas linhas azuis no branco bastão do teste de farmácia.
─ Ich liebe dich!
─ Ich liebe dich!
Os anos passavam gostosos pra família, mas chegou um tempo em que Marcos se interessou por outras culturas. Matriculou-se num curso de francês, próximo a seu trabalho. A esposa preocupou-se e, desde o primeiro dia de aula, não demonstrou interesse pela nova empreitada do marido.
Era être pra cá, avoir pra lá e as noites ficavam mais longas nas portas e janelas do casal.
Verbos, substantivos, artigos, adjetivos. Cafés, papos, bilhetes e abraços. Biquinhos pra cá, biquinhos pra lá. Não demorou muito, os dois bares, becos, motéis.
─ Je t’aime!
─ Je t’aime!
A vida passava quase perfeita pra Marcos. De manhã, amante francesa; de noite, mulher brasileira e o homem não cabia em si de tanta satisfação. Foram dois anos de curso intensivo, mas chegou um tempo em que Ligia arrevoir e tocou pra Paris pra começar seu doutorado graças a uma bolsa integral que ganhou tirando o primeiro lugar num concurso promovido pelo famoso curso onde trabalhava.
Passagens, boinas, livros, cachecóis, bilhetes, meias, fotos e a mulher levou consigo o desejo do homem de conhecer outras culturas.
Desde então, na casa de Marcos e Marta, as aulas de alemão inauguraram um novo tempo. Seria agora ele o instrutor.
Luzes piscavam, folhas e lápis caiam, cervejas refrescavam as gargantas risonhas e sedentas. Na madrugada, quando o sono de Marcelo era ainda mais fiel, podiam-se ouvir sussurros em pronúncias perfeitas:
─ Ich liebe dich!
─ Ich liebe dich!
E pensavam felizes: “Até que a morte os separe!” Amém.
Certa vez um homem olhou para uma mulher e disse: “Quer casar comigo?” Depois disso, nada mais foi o mesmo.
Marta, mulata exportação, vivia a comprar tamancos e vestidos que lhe valorizavam ainda mais a silhueta perfeita. Dada a elogios, ficava toda, toda quando, no caminho do colégio do filho de sete anos, assobios, piscadelas e buzinas a interpelavam. A mulher fingia não ouvir, mas verdade é que chegava a casa satisfeita e inspirada para iniciar as tarefas diárias. À noite, fazia sempre o jantar enquanto o filho assistia, pela enésima vez, seu desenho predileto na tevê da sala.
Beijo na testa, afago na cabeça. Beijo na boca, aperto na cintura e toca Marcos pro banho pra, em seguida, mais uma refeição em família.
Hei, nome de batismo de Marcos, alemão de origem, brasileiro por adoção, encantou-se com os trópicos e tudo o que continham, principalmente as mulheres. De todas que conheceu, nos primeiros anos de brasilidade, nada lhe tremia mais as pernas que Marta Brasil. Conheceu-a no curso de português pra estrangeiros de uma universidade pública. Era a mais ladina das monitoras e dava uma atenção especial ao simpático homem.
Verbos, substantivos, artigos, adjetivos. Cafés, papos, bilhetes e abraços. Não demorou muito, os dois bares, becos, motéis.
─ Ich liebe dich!
─ Ich liebe dich!
Marcelo chegou sem planejamento, em meio uma fantasia de colegial daqui, outra de oncinha dali, todas compradas, às pressas, num sex shop do Centro da cidade maravilhosa. O menino, assim, logo se anunciava entre duas linhas azuis no branco bastão do teste de farmácia.
─ Ich liebe dich!
─ Ich liebe dich!
Os anos passavam gostosos pra família, mas chegou um tempo em que Marcos se interessou por outras culturas. Matriculou-se num curso de francês, próximo a seu trabalho. A esposa preocupou-se e, desde o primeiro dia de aula, não demonstrou interesse pela nova empreitada do marido.
Era être pra cá, avoir pra lá e as noites ficavam mais longas nas portas e janelas do casal.
Verbos, substantivos, artigos, adjetivos. Cafés, papos, bilhetes e abraços. Biquinhos pra cá, biquinhos pra lá. Não demorou muito, os dois bares, becos, motéis.
─ Je t’aime!
─ Je t’aime!
A vida passava quase perfeita pra Marcos. De manhã, amante francesa; de noite, mulher brasileira e o homem não cabia em si de tanta satisfação. Foram dois anos de curso intensivo, mas chegou um tempo em que Ligia arrevoir e tocou pra Paris pra começar seu doutorado graças a uma bolsa integral que ganhou tirando o primeiro lugar num concurso promovido pelo famoso curso onde trabalhava.
Passagens, boinas, livros, cachecóis, bilhetes, meias, fotos e a mulher levou consigo o desejo do homem de conhecer outras culturas.
Desde então, na casa de Marcos e Marta, as aulas de alemão inauguraram um novo tempo. Seria agora ele o instrutor.
Luzes piscavam, folhas e lápis caiam, cervejas refrescavam as gargantas risonhas e sedentas. Na madrugada, quando o sono de Marcelo era ainda mais fiel, podiam-se ouvir sussurros em pronúncias perfeitas:
─ Ich liebe dich!
─ Ich liebe dich!
E pensavam felizes: “Até que a morte os separe!” Amém.
domingo, 19 de setembro de 2010
APURAÇÃO
vidas que se perdem...
penas e purpurinas
confetes e brilhos
espalhados em desencontros
em sambas atravessados
tempo não
tempo não volta
volta! – grito na multidão não se escuta.
surdo, surdo, surdo
na marcação
de alguém perdido – já se perdeu?
pés não acompanham a alma
alma sem corpo
garrafa de cerveja vazia
caída no meio-fio
na manhã de quarta-feira.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2006.
penas e purpurinas
confetes e brilhos
espalhados em desencontros
em sambas atravessados
tempo não
tempo não volta
volta! – grito na multidão não se escuta.
surdo, surdo, surdo
na marcação
de alguém perdido – já se perdeu?
pés não acompanham a alma
alma sem corpo
garrafa de cerveja vazia
caída no meio-fio
na manhã de quarta-feira.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2006.
domingo, 12 de setembro de 2010
ENCONTRO
Miro a mulher parada,
ela virada pra fora.
Será que vê a paisagem?
Esgazear de olhos negros,
ares de enxergar o nada.
O que será que espia,
fita, investiga, espreita?
Parece esperar alguém...
um eu que de fora vem?
Encostada na esquadria,
a porta, de par em par,
seu corpo é como miragem.
As mãos, vaguidão em cada;
os pés, gesto de voar;
o rosto voltado, embora
pareça ao errante afeita.
Com que será que ela sonha:
futuro, mar, querubim?
Por ordem de deuses gregos?
Será por pura peçonha?
Ela olha para mim.
Fascinada, olho a mulher:
está nela a minha face.
E, sem qualquer mais disfarce,
é a mim que ela quer.
(Eliane F C Lima)
Atenção: poema registrado no EDA – RJ – Escritório de Direitos Autorais .
ela virada pra fora.
Será que vê a paisagem?
Esgazear de olhos negros,
ares de enxergar o nada.
O que será que espia,
fita, investiga, espreita?
Parece esperar alguém...
um eu que de fora vem?
Encostada na esquadria,
a porta, de par em par,
seu corpo é como miragem.
As mãos, vaguidão em cada;
os pés, gesto de voar;
o rosto voltado, embora
pareça ao errante afeita.
Com que será que ela sonha:
futuro, mar, querubim?
Por ordem de deuses gregos?
Será por pura peçonha?
Ela olha para mim.
Fascinada, olho a mulher:
está nela a minha face.
E, sem qualquer mais disfarce,
é a mim que ela quer.
(Eliane F C Lima)
Atenção: poema registrado no EDA – RJ – Escritório de Direitos Autorais .
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
ENTRE O PROZAC E O PROSAICO
Não foi difícil convencer Helena a sair naquela noite. Fazia dias que se irritava até com as buzinas de carros e motos, velhas companheiras, partes do pacote de aluguel do antigo apartamento na Rua das Laranjeiras.
Manu, com seu tubinho preto e boca vermelha-vou-à-luta, esperava no banco da portaria pela amiga. Acreditava que, não subindo, Helena seria mais rápida e elas, desta vez, não chegariam atrasadas ao barzinho na Lapa.
Depois de vinte minutos, sai do elevador um ser arquejante de conjunto de moletom cinza e cabelos sem direção.
─ Demorei?!
─ Um pouco. Responde Manu, certa de que deveria ter subido.
Cintia Barreto
Rio de Janeiro, 2 de maio de 2009.
Manu, com seu tubinho preto e boca vermelha-vou-à-luta, esperava no banco da portaria pela amiga. Acreditava que, não subindo, Helena seria mais rápida e elas, desta vez, não chegariam atrasadas ao barzinho na Lapa.
Depois de vinte minutos, sai do elevador um ser arquejante de conjunto de moletom cinza e cabelos sem direção.
─ Demorei?!
─ Um pouco. Responde Manu, certa de que deveria ter subido.
Cintia Barreto
Rio de Janeiro, 2 de maio de 2009.
domingo, 29 de agosto de 2010
VARIEDADES
Amor: várias faces.
Por isso, precisa de adjetivo.
Amor bom
Amor neurótico
Amor destro e canhoto
Cada qual ama
Com o amor que tem.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2006.
Por isso, precisa de adjetivo.
Amor bom
Amor neurótico
Amor destro e canhoto
Cada qual ama
Com o amor que tem.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2006.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
VEGETAR
Assemelhar-se à planta:
nenhum gesto de ânsia,
nenhum objetivo formal,
só reserva e silêncio,
completa dissimulação.
Sem esgar de decepção,
dá a volta, se não pode a reta,
imperceptivelmente.
Sem orgulho ou comemoração,
excede limites,
conquista o alto,
atinge o profundo.
Eliane F.C.Lima
(Poema registrado no EDA – RJ – Escritório de Direitos Autorais/ Biblioteca Nacional)
nenhum gesto de ânsia,
nenhum objetivo formal,
só reserva e silêncio,
completa dissimulação.
Sem esgar de decepção,
dá a volta, se não pode a reta,
imperceptivelmente.
Sem orgulho ou comemoração,
excede limites,
conquista o alto,
atinge o profundo.
Eliane F.C.Lima
(Poema registrado no EDA – RJ – Escritório de Direitos Autorais/ Biblioteca Nacional)
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
QUASE LÁ
Deserto:
possibilidade de felicidade
que só solidão
em forma de paz
traduz,
aridez
que cobre rios de calmaria
prontos para emergirem
mas apenas o fazem
com o silêncio da procura meditativa.
Descobrir-se é caminhar para o ermo
com cantil, cobertas, esperança e alegria.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 08 de março de 2006.
possibilidade de felicidade
que só solidão
em forma de paz
traduz,
aridez
que cobre rios de calmaria
prontos para emergirem
mas apenas o fazem
com o silêncio da procura meditativa.
Descobrir-se é caminhar para o ermo
com cantil, cobertas, esperança e alegria.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 08 de março de 2006.
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